Comida farta, trabalho automatizado, lazer sem esforço. Esse estilo de vida traz a obesidade, que está matando muita gente.
Finalmente, depois de duas décadas tentando perder peso, sem conseguir, com a ajuda dos Vigilantes do Peso, a orientação de uma nutricionista, de um personal trainer e de um terapeuta que a ridicularizou por ser gorda, as coisas chegaram a um ponto extremo. Hoje Linda Hay está sentada em um consultório em Richmond, conversando com Harvey Sugerman, o cirurgião que em duas semanas lhe fará uma operação de redução do estômago.
A gastroplastia, ou cirurgia bariátrica, é uma operação de grande porte, que diminui a capacidade do estômago: seu volume passa do equivalente a uma garrafa de vinho para o de um copo pequeno. A cirurgia também reconfigura o intestino delgado. A maior parte dos pacientes operados perde cerca de dois terços do excesso de peso dentro de um ano. “A cirurgia é apenas uma ferramenta”, analisa Sugerman. “O paciente não consegue comer tanto quanto antes. Na maioria dos casos, se comer doces ou alimentos gordurosos, sofrerá a ‘síndrome de dumping’, com ondas de calor, suores e náusea.” Mesmo assim, a operação fracassa em 15% dos casos. Alguns pacientes subvertem a cirurgia: prosseguem comendo demais ao fazer pequenos lanches continuamente. E, entre as possíveis complicações da cirurgia, incluem-se coágulos sanguíneos nos pulmões, pneumonia, infecção, vazamento do trato intestinal reformatado e até mesmo – um caso em cada 100 – morte.
Aos 39 anos, Linda Hay tem 1,65 metro e pesa 142 quilos. Ela sofre de obesidade mórbida, o que a torna uma boa candidata à cirurgia. Seu cargo de gerente de recursos humanos em uma financeira exige tato, eficiência e organização – qualidades que tem de sobra. Ela também conta com um círculo de amigos íntimos que fariam qualquer coisa por ela. Veste-se na moda, usa o longo cabelo loiro penteado para trás, tem um rosto oval clássico e a pele clara. Linda sabe muito bem quem ela é, e não tem ilusões sobre o que ela não é. Mas ela é uma mulher – vamos falar a verdade – absolutamente enorme.
Quando lhe perguntei sobre sua decisão de fazer a cirurgia, ela falou das humilhações que já sofreu, como ter de pedir um extensor para o cinto de segurança no avião. Explicou sua relutância em ir ao cinema, porque os assentos são muito estreitos. Contou também da ocasião em que entrou em um serviço de namoro, registrando seu tipo físico como “alguns quilos a mais”. Conseguiu algumas respostas e depois, decidindo ser mais honesta, mudou para “grande”. Não obteve resposta nenhuma. Ela enumera ainda os problemas de saúde associados ao seu peso: alta pressão sanguínea, varizes, dores, inchaço nos pés e tornozelos, depressão. “A gente assume o controle por algum tempo, mas depois fracassa outra vez, e fica mais deprimida do que nunca”, diz ela.
Linda Ray ponderou calmamente os riscos e decidiu fazer a operação. Mesmo assim, está ansiosa. “Ninguém na minha firma sabe que vou fazer isso”, confessa. “Uma colega me disse: ‘Boa semana para você!’ – e já entrei em parafuso, pensando na pior das hipóteses. E se…?”
Comento com o doutor Sugerman que, pelo jeito, essa é uma cirurgia para os desesperados. Ele concorda: “A operação é uma solução drástica. Mas a obesidade é um problema drástico”.
A obesidade é definida pelo Índice de Massa Corporal, ou IMC – um cálculo complicado em que se divide o peso pela altura (tabela à esquerda). Se o resultado for 25, você está acima do peso. Se for 30, você é obeso. Mais de 40, você é morbidamente obeso. Os Estados Unidos são o país onde essa síndrome da vida moderna se manifesta de forma mais evidente. Hoje, de cada três americanos, um é obeso – o dobro do que ocorria 30 anos atrás. Mais graves são as estatísticas infantis: 15% das crianças e dos adolescentes americanos têm excesso de peso – quase o triplo do registrado em 1980. No Brasil, a obesidade já atinge mais de 10% da população, sobretudo mulheres e crianças. No mundo todo, mais de 300 milhões de adultos são obesos, e a Organização Mundial de Saúde classificou a obesidade de “epidemia”, apelidando-a de “globesidade”.
O excesso de gordura dos americanos é visível em todo lugar onde o visitante olhar – ou se sentar. As balsas de passageiros no Puget Sound, no estado de Washington, aumentaram a largura dos assentos de 46 para 51 centímetros para acomodar as pessoas com o traseiro mais avantajado. Até a morte precisou adaptar-se à nova realidade: um fabricante de caixões de Indiana agora oferece o tamanho extra-GG, com 97 centímetros de largura, em vez dos 61 normais.
O excesso de peso é associado a 400 mil mortes por ano nos EUA, e a maiores riscos de doenças do coração, diabete tipo 2, câncer do cólon, dos seios e do endométrio (mucosa interna do útero). Mais doloroso é o sofrimento psicológico dos que são estigmatizados pela doença. Numa pesquisa da Universidade Estadual de Michigan, os alunos responderam que teriam mais chances de casar-se com um estelionatário ou um viciado em cocaína do que com uma pessoa obesa.
Como foi que engordamos tanto? No ano passado perguntei isso a Robert Atkins, autor da dieta da moda. (A entrevista foi um mês antes de sua morte, por um ferimento na cabeça causado por uma queda.) Sentado a uma escrivaninha em seu escritório em Manhattan, ele aparentava a serenidade de um guru. Parecia flutuar, pairando acima da tempestade de polêmicas provocadas por sua dieta. “Nosso erro foi permitir que os especialistas da Associação Médica e do Departamento de Agricultura dos EUA dissessem: ‘Vocês têm de entrar em uma dieta de baixa gordura’. Eles se esqueceram de que, quando se faz isso, aumenta-se o teor de carboidratos.”
Qual foi o café da manhã de Atkins? (Ele afirmou que tinha 1,83 metro e pesava 86 quilos.) Ele comeu uma omelete com queijo e salsicha, um copo de suco de tomate e um chá, sem açúcar. Seu maravilhoso regime aprova o bacon, os ovos e a lagosta pingando manteiga, e recomenda aos leitores que reduzam o pão e as frutas. Atkins afirma que reduzir os carboidratos e preferir a proteína e as gorduras estimula o organismo a queimar gordura, por meio de um processo metabólico conhecido como ketosis. Outra vantagem: estar sempre em estado de “quase-ketosis” facilita controlar a fome. Desde 1972, seu livro A Dieta Revolucionária do Dr. Atkins e a versão atualizada de 1992 já venderam 18 milhões de exemplares. A última edição foi traduzida para 25 línguas – mas não para o italiano. “Eles não querem deixar o macarrão”, disse ele. (A versão italiana foi publicada em 2004, após sua morte.)
Não há dúvida de que os americanos estão se abarrotando de carboidratos, como pão, macarrão e batata. No início dos anos 1970, cada americano consumia anualmente 62 quilos de farinha e produtos cereais. Agora são 90 quilos. A maior parte desses produtos é de grãos altamente processados, como o pão branco, que contêm poucas fibras e são absorvidos na corrente sanguínea mais depressa do que os grãos integrais, com elevado teor de fibras. Esses alimentos têm alto índice glicêmico, o que significa que estimulam uma elevação súbita no nível de glicose e deflagram uma alta correspondente na produção de insulina no pâncreas. Os defensores dos regimes de baixo nível de carboidratos afirmam que o aumento da insulina faz baixar o açúcar no sangue, o que, por sua vez, cria o desejo de consumir mais carboidratos – e assim por diante, em uma guerra contínua entre glicose e insulina. O problema é que as pesquisas não corroboram essa afirmação: o baixo teor de açúcar no sangue não foi diretamente relacionado à sensação de fome. E, a menos que a pessoa tenha diabete, o açúcar no sangue permanece, de modo geral, estável.
“Ninguém está afirmando que todos os carboidratos são prejudiciais”, disse Atkins. “Mas, se você precisa perder peso e quer diminuir a gordura corporal, então deve reduzir os carboidratos. Não se trata só de comer carne.”
Nem todos se converteram ao evangelho de Atkins. Dean Ornish, diretor do Instituto de Pesquisas em Medicina Preventina de Sausalito, Califórnia, foi um dos primeiros defensores de uma dieta de baixo teor de gordura para reduzir o risco de doenças cardíacas. Ele afirma que seguir a dieta de Atkins pode ajudar a perder peso a curto prazo, mas tem um alto custo: a saúde. Ele cita o maior risco de câncer nos seios, câncer na próstata e doenças cardíacas, sem falar em dores de cabeça, constipação intestinal e até mau hálito como resultados da dieta de Atkins.
“Atkins tem razão quando diz que ingerimos muitos carboidratos simples, como açúcar e pão branco”, diz Ornish. Mas ele afirma que a solução é substituí-los por carboidratos complexos, como cereais integrais e verduras, e não por mais gordura: “Atkins erra ao recomendar comer bacon e entrar no processo de ketosis. É um estado tóxico. Eu adoraria dizer às pessoas que não há problema em comer bacon e salsicha, só que as coisas não são assim. Pode-se perder peso de uma maneira que prejudica a saúde. Fumar emagrece, assim como tomar anfetaminas. Não se trata só de perder peso, mas, sim, de perder peso de uma forma saudável, benéfica ao organismo.”
Ao me despedir de Atkins, perguntei-lhe como ele gostaria de ser lembrado no futuro. “Como uma pessoa que mudou a abordagem da medicina convencional. E espero viver o suficiente para ver isso.” Um mês depois de sua morte, o New England Journal of Medicine relatou que, a curto prazo, as pessoas que seguiam a dieta de Atkins perderam mais peso do que as que estavam em uma dieta de baixo teor de gordura, e não havia muita diferença de colesterol entre os dois grupos. O problema: os seguidores da dieta de Atkins recomeçaram a engordar após seis meses e, no final de um ano, estavam com o mesmo peso que o grupo de comparação. Ainda não se pode dizer quais são os efeitos da dieta a longo prazo, mas o governo está financiando um estudo de cinco anos que poderá chegar a uma conclusão.
Mesmo assim, nem a morte de Atkins silenciou seus críticos. “Por que não foi feita autópsia nele para que víssemos a situação das suas artérias coronárias”, diz uma nutricionista, fervendo de raiva, quando toco no assunto.
Se nem os especialistas concordam sobre qual dieta é a melhor, em quem devemos acreditar? “É uma simples questão de comer menos calorias. Mas ninguém quer falar em calorias, porque isso não vende livros”, diz Marion Nestle, professora de nutrição na Universidade de Nova York. Ela tem razão. O governo americano recomenda uma ingestão diária de 1,6 mil calorias para uma mulher sedentária média, e 2,2 mil para os homens. No entanto, no ano 2000, o consumo diário per capita de calorias foi de 1 877 para as mulheres e 2 618 para os homens – ou seja, cerca de 300 calorias a mais que o necessário.
A Primeira Lei da Gordura diz que qualquer coisa que você coma além das suas necessidades imediatas de energia se converte em gordura. A Segunda Lei da Gordura: a linha que divide o equilíbrio do desequilíbrio, em termos de energia, é muito sutil. Digamos que você consome apenas 5% mais do que a média recomendada de 2 mil calorias por dia. “São apenas 100 calorias a mais, ou um copo de suco de maçã”, diz Rudolph Leibel, da Universidade Columbia. “Mas essas calorias extras podem resultar em um enorme ganho de peso.” Uma vez que 1 quilo de peso corporal equivale basicamente a 7,7 mil calorias, aquele copo de suco de maçã acaba se transformando em 5 quilos extras em um ano. Por outro lado, você também ganhará 5 quilos se adotar um estilo de vida mais sedentário – passando a andar de carro em vez de caminhar, subir de elevador em vez de usar a escada – e passar a queimar 100 calorias a menos todos os dias.
“As pessoas engordam comendo um pouco a mais do que conseguem queimar, mas não sabemos por quê”, diz Leibel. “Comer demais não é uma atitude deliberada nem resultado de traumas de infância. São os genes que falam, e é uma linguagem muito complicada. A genética é tudo.”
Na década de 1960, James V. Neel, geneticista da Universidade de Michigan, ouviu uma dessas “conversas genéticas”. Na sua hipótese, que fala do “gene econômico”, Neel sugeria que alguns de nós herdamos genes que tornam muito eficiente nossa maneira de consumir e usar as calorias. Nosso corpo é perito em converter alimentos em gordura e conservar essa gordura. É uma característica que deve ter ajudado nossos antepassados a sobreviver outrora, quando as calorias eram poucas, difíceis de encontrar. Mas, no século 21, quando a oferta de calorias não é problema nos países desenvolvidos, esses genes que favorecem o aumento de peso continuam ativos, embora não sejam mais úteis à raça humana. A evolução nos traiu. Acumulamos gordura para uma eventual época de fome, mas essa época nunca chega.
Em 1994, uma equipe da Universidade Rockefeller, chefiada por Jeff Friedman, descobriu mais um pedaço desse quebra-cabeça genético. Em estudos com ratos obesos, os cientistas identificaram um gene que diz ao organismo como fabricar leptina, um hormônio que diminui o apetite. A leptina, produzida na própria célula de gordura, faz parte de um sistema semelhante a um termostato, que mantém o peso em um nível constante. Podemos considerá-la um cão de guarda que evita que a pessoa morra de fome ao monitorar a gordura corporal. Se você perder peso, os níveis de leptina caem, estimulando-o a comer mais e recuperar o peso. Se ganhar quilos extras, a leptina sobe e você come menos, em um intrincado circuito bioquímico e neurológico.
Em resumo, injetar leptina em pessoas que têm uma rara incapacidade congênita de produzir essa substância realmente as faz perder peso, mas isso não surtiria muito efeito nas demais pessoas. Em testes clínicos, aquilo que se constatou nos camundongos nem sempre funcionou bem depois com os seres humanos.
A descoberta da leptina e de diversos outros hormônios promissores ainda não resultou em nenhuma droga milagrosa. Mas a pesquisa genética está dando pistas para compreendermos por que algumas pessoas têm mais tendência a engordar do que outras. Costumamos pensar que as pessoas que comem demais não têm força de vontade. Mas o que parece cada vez mais claro é que o impulso para comer demais tem fortes razões biológicas. Os que são geneticamente suscetíveis à obesidade não têm, necessariamente, um metabolismo lento, que faz o corpo reter gordura. O que eles têm, talvez, é um impulso biológico mais forte para comer – especialmente em um ambiente onde a comida é gostosa, barata e abundante.
A pergunta, diz Friedman, não é saber por que tantos estão engordando. O mais intrigante é saber por quê, em um ambiente de tanta abundância de alimentos, ainda há pessoas magras.
Certo dia, de manhã, liguei a TV para ver quais anúncios de alimentos estão chegando à sala dos americanos. Segundo um estudo de 2001, uma criança americana média assiste, por ano, a quase 10 mil anúncios de comida ou bebida. Primeiro, aparece na tela um saco de biscoitos de chocolate Oreos Double Delight. Depois, Martha Stewart, com a expressão despreocupada, mostra como fazer um bolo de chocolate. Por fim, no meio desse mar de açúcar, surge um alimento saudável: o coelho Pernalonga roendo uma cenoura.
O que devem fazer os pais que tentam convencer os filhos a comer verduras? “Vivemos em um ambiente venenoso”, resume Kelly Brownell, diretor do Centro Yale para Transtornos da Alimentação e do Peso. “É como tentar curar um alcoólatra em uma cidade onde há um bar em cada esquina. A comida prejudicial à saúde é barata, tem enormes verbas de publicidade e é fabricada de maneira a ter um gosto agradável. A comida saudável é difícil de se obter, não é anunciada e é cara.”
Brownell é a favor da intervenção de uma legislação que iria, por exemplo, suspender os comerciais de alimentos dirigidos às crianças ou proibir refrigerantes e salgadinhos nas máquinas de venda automática nas escolas. “Os paralelos com o cigarro são interessantes”, diz ele. “Podemos procurar uma droga que elimine os efeitos do fumo ou então ir direto à causa e fazer todo o esforço para nos livrar do cigarro.”
Talvez o que os EUA e o mundo realmente precisem para lutar contra a gordura é uma mãe. Uma mãe à moda antiga, de avental xadrez, colocando uma travessa de verduras na mesa, ao lado de um frango assado sem pele. “Em vez disso, o restaurante tornou-se o substituto da cozinha”, diz Harry Balzer, vice-presidente da NPD, firma de pesquisa de mercado que há quase 25 anos acompanha o que e onde os americanos comem.
Já que eu também mereço uma folga, estou sentada em um McDonald’s no Colégio Estadual da Pensilvânia, com Barbara Rolls, professora de Ciências da Nutrição da Universidade Estadual da Pensilvânia. Por 12 dólares e uns trocados, Barbara e eu pedimos um McLanche Feliz, com cheeseburger, Coca-Cola e batata frita; um BigMac, com batata frita média e uma Coca-Cola grande; e uma salada Califórnia, com frango grelhado e um pacotinho de molho de salada César. Começa a inspeção: Barbara examina o BigMac (600 calorias). O McLanche Feliz é um cheeseburger de tamanho regular (330 calorias). No total, há 2 470 calorias à nossa espera naquela travessa de plástico vermelho. Se limparmos o prato, cada uma de nós consumirá 77% da dose diária recomendada de calorias em apenas uma refeição.
Enquanto conversamos, distraidamente ponho a mão no saquinho de fritas e enfio um punhado na boca. Barbara chama isso de “comer sem pensar”. “Prestamos pouca atenção à nossa necessidade real de alimento”, diz. Em uma experiência, seus alunos ofereceram macarrão aos participantes. “Em alguns dias nós oferecíamos uma porção normal. Em outros, 50% a mais pelo mesmo preço. E, quando servíamos a porção maior, eles simplesmente continuavam comendo.”
Seguimos nos fartando com quantidades infindáveis de comida enquanto as estatísticas vão ficando mais e mais assustadoras. “Tratamentos antigos, como fixar as mandíbulas com pinos metálicos, eram medidas extremas, mas a redução estomacal também é”, diz Barbara. “É como a lobotomia pré-frontal que se usava para tratar as doenças mentais.”
No ano passado foram feitas cirurgias bariátricas em 103,2 mil pacientes só nos EUA, com uma taxa de complicação de 7%. A operação de Linda Hay durou quatro horas e foi complicada por uma pneumonia – ela ficou hospitalizada cinco dias a mais. Agora, um ano e meio depois, perdeu 73 quilos e come moderadamente: de manhã, um preparado de proteínas; no almoço, uma salada ou um sanduíche; e, no jantar, um prato semipronto aquecido no microondas.
Linda já deu de presente suas roupas tamanho GGGG, compra calças tamanho 44, ou M, e consegue subir um lance de escadas sem perder o fôlego. “E já atraio olhares masculinos quando saio.”
Se não estivermos dispostos a mutilar o estômago, será que algum dia resolveremos o problema da gordura? Pela primeira vez, há tantas pessoas no mundo com excesso de peso quanto as que são subnutridas e estão abaixo do peso.
“Não há banquete que não chegue ao fim”, adverte um antigo provérbio chinês.
Um país superalimentado
Para os que ainda põem a culpa pela barriga saliente em um metabolismo lento, tal desculpa não cola mais. Um relatório divulgado no início do ano pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças confirma o que muita gente não queria reconhecer: estamos gordos porque comemos demais – bem mais do que costumávamos comer. A maior parte do aumento vem dos carboidratos. As mulheres adultas americanas hoje comem 335 calorias a mais por dia do que em 1971, enquanto os homens subiram o consumo em 168 calorias.
Cada americano consumiu, em média, 798 quilos de alimento em 2000, enquanto que, em 1970, foram 673 quilos. À primeira vista, esse aumento parece até positivo. Estamos comendo mais vegetais, como aconselhava a Pirâmide Alimentar do Departamento de Agricultura de 1992. O problema é que quase um terço desses alimentos são alface e batata frita. E, se é verdade que comemos mais porções de “grãos” do que o recomendado, isso não significa que passamos a gostar de arroz integral e trigo-sarraceno. Os cereais que degustamos são derivados da farinha, como macarrão, tortillas e pão de hambúrguer, que têm tanto valor nutritivo como o açúcar. Mesmo a redução da gordura como porcentagem das calorias totais não é um verdadeiro progresso. O único motivo pelo qual a porcentagem caiu é que estamos comendo muito mais das outras coisas.
É melhor evitar os carboidratos, como prega a dieta de Atkins? Para Meir Stampfer, epidemiologista de Harvard, os culpados são o açúcar extra e os carboidratos processados, e não os carboidratos com alto teor de fibras, como os grãos integrais. As diretrizes da Pirâmide Alimentar recomendavam evitar a gordura e valorizar os cereais. “Mas nós nos empanturramos de macarrão e pão”, diz Stampfer. “A mensagem em favor do baixo teor de gorduras teve efeito contrário.”
FONTE: National Geographic