Aprendendo a lidar com a enxaqueca

Aprendendo a lidar com a enxaqueca

Pessoas afetadas pelo problema contam suas histórias e dizem como tentam superar as crises e conviver com ele.

A notícia de que Michele Bachmann, candidata à presidência dos Estados Unidos, sofre de um tipo severo de enxaqueca causou um debate nacional nos Estados Unidos sobre essa doença surpreendentemente comum e bem pouco conhecida e, muitas vezes, tratada de forma incorreta.

Os pacientes com enxaqueca apresentam aqui suas histórias. Embora cada uma delas seja diferente, existem dois pontos em comum: o sofrimento e as tentativas de superar o problema.

Enciclopédia da Saúde: saiba mais sobre a enxaqueca aqui

Para algumas pessoas, a enxaqueca representa dor de cabeça latejante e náusea tão fortes que elas precisam se trancar em um quarto escuro por um dia ou mais. Para outras, significa um instante de medo no volante do carro, quando, segundo elas, fenômenos sensoriais causados pela enxaqueca como pontos luminosos ou cegueira parcial – a chamada enxaqueca com aura – as forçam a deixar a estrada.

20% dos brasileiros têm enxaqueca

“Imagine se alguém enfiasse um prego na sua cabeça e depois, periodicamente, ele fosse martelado para lembrar você de que está lá. A dor é essa”, conta Craig Partridge, 50, cientista-chefe de uma empresa de pesquisa de alta tecnologia em East Lansing, Michigan, que começou a ter enxaqueca no final da adolescência.

Mais de 10% das pessoas, entre adultos e crianças, sofre de enxaqueca. A doença é três vezes mais comum no sexo feminino. Além disso, segundo a Fundação de Pesquisa sobre Enxaqueca dos Estados Unidos, aproximadamente um quarto das famílias são afetadas.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a enxaqueca está entre os 20 problemas de saúde mais debilitantes: mais de 90% das vítimas não consegue trabalhar ou exercer funções normais durante a crise, que pode durar quatro horas ou um dia inteiro.

Algumas das vítimas relatam que os ataques são tão debilitantes que elas não conseguem se imaginar aceitando tarefas de grande responsabilidade. Outras pessoas, contudo, afirmam que a experiência adquirida e os novos tratamentos com medicamentos têm ajudado a encontrar formas de enfrentar a doença. Em muitos casos, a enxaqueca obrigou-as a cuidar melhor de si e a adotar comportamentos saudáveis, como, por exemplo, dormir o suficiente e controlar o estresse.

Partridge aprendeu a evitar alimentos com cafeína e a luz forte, e sempre usa óculos de sol quando está sob luz solar intensa. Após anos tomando ibuprofeno contra as dores de cabeça, ele contraiu uma úlcera medicamentosa. Com o tempo, ele descobriu que a frequência das dores diminuía se tomasse um suplemento de magnésio, e agora toma apenas três comprimidos ao ano.

“No meu entender, cada pessoa é um pouco diferente”, afirma. “Algumas pessoas veem pontos luminosos, sintoma que nunca tive. Comigo ocorre perda da visão periférica. Começo a sentir minha língua pesada e dificuldade para falar”.

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Kat Smith, 47, mãe de três filhos e moradora da comunidade Bryn Mawr, na Pensilvânia, lembra que a doença causou grande sofrimento ao seu irmão na adolescência. Contudo, Smith nunca havia sentido nada até que um acidente de bicicleta desencadeou o mal, quando ela estava na casa dos 20 anos. Em outro momento, após o nascimento de seu filho, ela teve crises regulares e intensas, aproximadamente 12 vezes ao mês. Kat descobriu que o álcool em pequenas doses e a atividade física intensa agiam como desencadeantes.

“Eu era uma pessoa bastante despreocupada e me tornei rigorosa e muito disciplinada em relação a mim”, afirma. “Parecia que eu precisava eliminar as ações associadas à alegria. Precisava reconstruir a minha vida como uma pessoa com enxaqueca, após aceitar que ela não iria embora”.

Ela se adaptou, abandonou o hóquei sobre gelo e a ginástica aeróbica e os substituiu por ioga. Porém, às vezes ela ultrapassa seus limites. No fim de semana retrasado, ela participou de uma intensa aula de dança e a consequência foi uma enxaqueca.

“Eu faço algo que envolve muita atividade física e me sinto muito bem”, afirma. “Na mesma noite, tenho uma forte enxaqueca”.

Para muitos pacientes, incluindo Smith, uma classe de medicamentos, os triptanos, ajudam a reduzir a dor. Os triptanos atuam como vasoconstritores no cérebro, alterando o fluxo sanguíneo. Com eles, muitas vezes é possível encerrar crise por completo ou diminuir a sua intensidade, se forem tomados nos primeiros minutos do ataque.

Outros pacientes realizam tratamentos diários para prevenir o início de um ataque. Barbara Thompson, 59, especialista em comunicação de Manhattan, usa um medicamento contra epilepsia que demonstrou ser eficaz na prevenção da enxaqueca. Apesar da dose diária, às vezes a crise irrompe. Nos dias em que isso acontece, ela toma um medicamento à base de triptano.

“Muitas vezes, eu os tomo quando estou no trabalho”, afirma. “Me percebo mais calma e preciso me concentrar mais no que estou fazendo. Nesse dia, fico mais voltada para dentro – não tenho forma melhor para explicar.”

Em um vídeo que se difundiu rapidamente, a repórter de televisão Serene Branson diz palavras incompreensíveis ao vivo, durante a apresentação do Grammy. No início, parecia que ela estava tendo um derrame em frente às câmeras. Mais tarde, porém, seu médico chegou a conclusão de que ela tinha tido um ataque de enxaqueca com aura, impossibilitando-a de formar palavras.

Algumas vítimas da enxaqueca, incluindo Bachmann, sentem uma dor tão forte que precisam passar pelo serviço de emergência. Porém, descobriu-se por meio de uma análise recente que os medicamentos receitados pelos médicos de prontos-socorros de Ontário, no Canadá, raramente são adequados para tratar a enxaqueca, de acordo com o relato realizado mês passado, na revista Pain Research & Management. Os dados sugerem que mais educação é necessária.

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“Se a doença não for bem controlada, com a combinação certa de terapia preventiva e aguda, pode ser bastante debilitante”, afirma Satnam Nijjar, principal autor do estudo e professor adjunto de neurologia do Johns Hopkins Headache Center.

“Provavelmente, ela é a maior causa de horas de trabalho perdidas nos Estados Unidos”.

Segundo Robert Dalton, diretor executivo da National Headache Foundation (‘Fundação Nacional para a Dor de Cabeça’, em tradução livre), em Chicago, embora a enxaqueca possa ser debilitante, o problema maior está no fato de que muitas vítimas não estão sendo tratadas da forma correta.

“Nós queremos que as pessoas saibam que essa é uma doença debilitante se não for controlada de forma correta”, afirmou.

FONTE: IG Delas

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