A turma do segundo ano da professora Sara está se divertindo com as histórias da Sylvia Orthof contidas no livro “Os bichos que tive”. A leitura compartilhada desse livro faz parte do Projeto de Literatura que ela está desenvolvendo com a turma neste primeiro trimestre.
São inúmeras opções de livros e autores infantis para trabalhar um projeto assim, então por que a escolha dessa obra? Sara explica que “Orthof foi uma autora que conseguiu escrever textos que retratam fielmente o vasto universo infantil”.
As crônicas de Os bichos que tive narram lembranças dos bichos de estimação que Sylvia (teoricamente) teve na infância, incluindo um bicho-de-pé. “Através de seus textos, aparentemente ingênuos, ela faz reflexões profundas. Seus textos são vivos. Nos dois sentidos. Até os postes de luz e estátuas ganham destaque nas suas narrativas. Ela explora como ninguém as ironias, comparações, ambiguidades e, principalmente, o humor”, conta a professora.
Projeto
O Projeto de Literatura do segundo ano é pautado por uma sequência pedagógica pré-estabelecida pela escola, com inúmeros objetivos. Entre eles está apresentar a biografia da autora, proporcionar aos alunos a leitura dos textos do livro para que possam apreciar a leitura,valorizar o ato de ler como um meio de se informar e transmitir cultura, apropriar-se do código da escrita e da leitura convencional, compreender as diferenças entre linguagem poética e literária, apreciar narrativas em primeira pessoa, assim como identificar e descrever características do arcabouço das histórias lidas: introdução, complicação, resolução, desfecho.
Outro aspecto interessante desse projeto é a possibilidade de despertar outros conceitos e reflexões, como a memória (quais bichos de estimação eu já tive? Quais meus pais tiveram?), o cuidado com os animais e a preservação da natureza.
Para os alunos do segundo ano, ler ou acompanhar a leitura em letra script é um desafio, por isso a contação de histórias diária é fundamental. “No primeiro ano, os textos apresentados são todos em caixa alta. É agora, no segundo ano, que a letra script chega para ficar. Acompanhando minha leitura, lendo junto em voz baixa, eles também vão ficando mais confiantes para lerem sozinhos”, comenta a professora Sara.
A execução do projeto é dividida em etapas. Primeiro, a turma se familiariza com a autora. “Apresento a biografia completa da autora, por meio de textos, fotos, vídeos e curiosidades sobre sua vida”, afirma Sara. Depois o grupo passa para a etapa de contação e leitura compartilhada do livro diariamente. Na sequência, acontecem outras práticas relacionadas a leitura. “Os alunos recontam suas crônicas preferidas respeitando a sequência lógica da história, comunicam o que aprenderam sobre a autora, criam suas próprias histórias, exercitam a identificação de personagens, cenário, narrador e título e fazem registros em desenhos como forma de representar suas ideias.
“Como é o nome do seu bicho-de-pé de estimação? – perguntou Mamede. – É… é… – Ai, sempre essa dificuldade! Os bichos, as pessoas, tudo precisa ter nome! – Que tal a gente botar o nome nele de… de… de Fernão Dias Paes Leme? – perguntou Mamede, começando a rir, ho, ho, ho, hu, hu, hu, hi, hi, quac! – Quem? Meu pobre bicho-de-pé com um nome tão difícil? – É que Fernando Dias Paes Leme era um bandeirante, andava muito. Se pé anda muito, quanto mais bicho-de-pé! – Pensei, pensei, acabei achando bonito o nome. Fernão Dias Paes Leme, o bicho-de-pé, também gostou, porque fez uma cosquinha, ui que cosquinha danada!”
(trecho do livro Os bichos que tive)