Era ainda pequeno, uns 8 ou 9 anos, quando senti a satisfação de ter, pela primeira vez, meus serviços “profissionais” reconhecidos. Depois de algum treinamento, havia me tornado um exímio trocador de lâmpadas. Foi a necessidade que me levou a este cargo tão honroso. Antes, na casa da minha avó Geralda, a tarefa era confiada ao meu avô, um homem muito ativo que tinha caixa de ferramentas e tudo o mais. Aí, uma doença degenerativa pegou o velho e doce Candinho, tornando arriscada demais a subida dele na escada para desatarraxar o globo de vidro no teto.
Logo na primeira vez que assumi o posto, percebi o quanto aquilo era importante. Toda a casa parecia ter se reunido em torno da escada. Uns tentando me explicar a técnica da coisa, outros preocupados com a minha integridade física e todos demonstrando uma alegria infinita por ter de volta a luz elétrica no ambiente.
Aprendi muitas coisas na nova função como, por exemplo, identificar uma lâmpada defeituosa. Solenemente, chacoalhava o bulbo perto do ouvido tentando auscultar o ruído metálico do filamento de tungstênio rompido se chocando contra a fina superfície de vidro leitoso da lâmpada. Caso confirmado, me virava para todos com a seriedade de um médico legista e disparava o diagnóstico definitivo: está queimada!
Com o passar dos anos, e a inevitável adolescência, a minha disponibilidade como trocador de lâmpadas na casa da minha avó passou a ser menos frequente e ainda mais valorizada. Consegui manter esse “emprego” por muito tempo… Até hoje me coloco como candidato à tarefa quando estou por lá. É engraçado, mas não uma coincidência, que a chegada do final do ano me traga de volta essa memória tão distante.
Lembro que era justamente nessa época, na ansiedade e demandas dos preparativos para as festas de final de ano, que os chamados para trocar lâmpadas queimadas eram mais urgentes e incisivos. Afinal, tudo precisava estar nos trinques para o Natal. Só que, evidentemente, o ritual de trocar lâmpadas significava muito mais que a necessidade da iluminação dos ambientes. Significava sobretudo uma ligação afetiva que se estendia em longas conversas em torno da mesa com o lanche da tarde oferecido como recompensa pelos serviços prestados.
Com a aceleração do tempo, e o aumento dos membros da família, as festas do final de ano têm ficado cada vez mais “profissionalizadas”. Faço essa constatação sem nostalgia ou qualquer tipo de crítica. É um desafio manter a tradição com as agendas dos membros da família cada vez mais congestionadas. Este ano, cheguei a ser informado de um software para resolver o drama do “amigo secreto” em famílias cujos membros vivem espalhados por cidades diferentes, como é o caso da minha. Fantástica e abençoada invenção…
Só quis recuperar aqui a memória da arte de trocar lâmpadas para compartilhar com vocês a intenção de que o Natal e as festas de fim de ano não se resumam à celebração em torno de presentes e compromissos religiosos. Que todos consigamos fazer dessa época uma oportunidade para trocar lâmpadas e acender luzes dentro do coração de pais, filhos, família e amigos. Feliz Ano Novo!
Marcelo Tas