Novas pesquisas mostram que a gravidez e os primeiros dois anos de uma criança são fundamentais para determinar a saúde física e mental dela para a vida toda. Descubra por que esse tempo é tão importante, quais cuidados você precisa ter e o que fazer se o seu filho já passou dessa fase.
Não vai haver uma fase mais importante do que essa na vida do seu filho. Ao menos no que diz respeito à seu desenvolvimento físico e mental. De invisíveis, as duas células que formaram o embrião vão se multiplicar até chegar a cerca de 13 quilos depois de mil dias de existência. E esse período não concentra apenas o maior estirão de crescimento do ser humano. São os anos fundamentais para a prevenção de problemas de saúde, para o desenvolvimento dos sistemas nervoso e imunológico e até para garantir que ele tenha uma boa alimentação quando se tornar adulto.
Sabe-se, por exemplo, que aquilo que a mulher come durante os nove meses ajuda a determinar o paladar e o olfato do bebê – ele sente o sabor pelo líquido amniótico –, e que filhos de mães que tiveram diabetes gestacional também têm mais chances de desenvolver a doença, por exemplo. Um dos primeiros médicos a estudar a relação entre a qualidade de vida do bebê, desde a concepção, e uma vida adulta saudável é o epidemiologista britânico David Barker, professor de cardiologia da Universidade de Southampton (Reino Unido). Foi ele quem colocou holofotes sobre a questão do baixo peso ao nascer (menos de 2,5 kg) ao mostrar que essa criança está mais vulnerável a desenvolver algumas doenças crônicas na fase adulta, como hipertensão arterial e diabetes (porque o organismo dela entende que deve armazenar mais energia em forma de gordura do que uma criança que nasceu com o peso normal).
Já fora do útero, os primeiros dois anos são os mais significativos para o desenvolvimento do cérebro. “Metade do crescimento cerebral da vida inteira ocorre nesse período”, afirma Mauro Muszkat, neuropediatra, coordenador do Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil Interdisciplinar da Unifesp. O bebê nasce com o cérebro desenvolvido na área sensorial (olfato, tato e audição), mas nesse período passa pelas maiores modificações cognitivas, adquire as habilidades motoras mais amplas (como o andar) e mais finas (como conseguir pegar pequenos objetos). E onde você entra nessa história? “A criança tem um potencial, mas isso é mediado pelo ambiente. Os pais têm papel decisivo na forma como ela vai se desenvolver. Eles são o primeiro ‘ambiente’ do filho”, diz Ricardo Halpern, pediatra, presidente do Departamento Científico de Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Os trabalhos publicados ao redor do mundomostram que existe um efeito positivo dos estímulos depois dos 2 anos. “Mas o da estimulação precoce é maior, mais importante e mais efetivo”, afirma Aluísio Barros, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas
Quanto mais estímulos a criança tiver, maior será o número de ligações entre os neurônios, aumentando a capacidade de aprendizado e levando o cérebro a fazer novas conexões. Mais estímulo, porém, não significa alfabetizar seu filho aos 4 anos, por exemplo. O caminho está na simplicidade. Brincar de tinta, jogar bola e ajudá-lo a dar os primeiros passos são maneiras de fazer com que isso aconteça. Por isso não causa espanto o resultado de uma pesquisa recente feita pela Universidade Federal de Pelotas (RS), com 3.855 crianças, aos 2 e aos 4 anos, que mostrou que as que têm contato com livros, visitam outras pessoas ou brincam em parques ou praças nos primeiros 720 dias de vida apresentam melhores resultados em testes específicos de memória, inteligência e cognição.
Esse mesmo conceito de simplicidade vale para o desenvolvimento de outras áreas consideradas importantes para a saúde da criança nos dois primeiros anos, como a alimentação e o sistema imunológico. Você não precisa se transformar em chef de cozinha nem se preocupar com as mãozinhas que ficam no chão o tempo todo – aliás, uma das dicas para desenvolver a imunidade dele é deixá-lo se sujar. Nas próximas páginas você vai entender esses e outros pontos superimportantes desse período tão especial da vida do seu filho, desde a gravidez.
Os trabalhos publicados ao redor do mundo mostram que existe um efeito positivo dos estímulos depois dos 2 anos. “Mas o da estimulação precoce é maior, mais importante e mais efetivo”, afirma Aluísio Barros, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas.
FONTE: Revista Crescer