De acordo com a pesquisa, quando os pais têm altas expectativas em relação aos filhos, eles se saem melhor na escola. Entenda:
O primeiro semestre terminou e agora é a hora de curtir as férias escolares. Mas, em agosto, muitas crianças precisarão se dedicar para recuperar as notas que ficaram devendo… Se seu filho faz parte desse grupo, saiba que as expectativas que você nutre a respeito do desempenho acadêmico dele podem ter uma grande influência sobre o resultado que aparece no boletim.
Segundo um estudo publicado no Journal of Family Psychology, as crianças tiram as notas que os pais esperam que elas tirem. Ou seja: se você acha que seu filho é um bom aluno e espera que ele tire sempre notas boas, é provável que ele, de fato, se saia bem na escola. Em contrapartida, se as suas expectativas são baixas em relação à performance acadêmica do seu pequeno, há maiores chances de que ele tenha um desempenho medíocre.
Pesquisadores chegaram a essa conclusão por meio de um estudo realizado com 388 famílias com ambos os pais e pelo menos dois filhos. Em uma etapa inicial, foram formados subgrupos que representassem todas as combinações possíveis entre as crianças: dois meninos, duas meninas, uma irmã mais velha e um irmão mais novo e um irmão mais velho e uma irmã mais nova.
Os pais tiveram que responder a um questionário com uma série de perguntas sobre suas expectativas em relação aos filhos, sobre as diferenças e semelhanças entre as crianças, sobre o desempenho de cada uma na escola e até, em uma escala de 1 a 5, quão melhor eles acreditavam que as notas de um filho eram em relação às notas do outro. A ideia era avaliar as diferenças entre as expectativas dos pais para cada um dos irmãos, no quesito desempenho escolar. Eles também avaliaram as notas escolares das crianças, para fazer um comparativo.
Como a expectativa dos pais pesa sobre os filhos
“As narrativas que as famílias têm a respeito das crianças são vitais e isso não tem a ver só com o desempenho escolar, mas com toda a confiança que a família vai passando para essa criança e com a construção de sua autoestima”, explica a psicopedagoga clínica Quezia Bombonatto, diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). Em outras palavras, é claro que a posição e as características atribuídas à criança influenciam a maneira como ela se enxerga, a confiança que tem em si mesma e, consequentemente, suas notas. Mas trata-se de um processo muito mais complexo. “Depende do nível de exigência para com a criança, da permissividade dos pais, do tipo de elogio e incentivo que a criança recebe. Isso começa muito antes da escola”, completa.
Uma das observações feitas pelos pesquisadores é que mesmo quando aquele filho que normalmente não se sai tão bem na escola tira uma nota boa, os pais tendem a subestimar seu feito. E o contrário também acontece: quando o filho que é considerado bom aluno tira uma nota mais baixa, os pais relevam o “deslize”. “É fato que os pais tendem a comparar os filhos. Seja porque um deles se sobressai ou simplesmente por uma questão de identificação e afinidade”, explica pedagoga Elizabeth Duarte, coordenadora do Colégio Nossa Senhora do Morumbi (SP). “É preciso tomar cuidado com essa comparação nata para não estigmatizar as crianças”, alerta.
De acordo com o estudo, em geral, filhos mais velhos são considerados melhores alunos, mesmo que o boletim não comprove essa “superioridade”. Para Quezia, não dá para generalizar e dizer que os primogênitos são considerados os filhos-modelo em todas as famílias. “O primeiro filho geralmente carrega uma carga de expectativa maior. Já se faz uma ideia de alguém vitorioso, se projeta nele muitos desejos. Quando chega o segundo filho, muitas expectativas já foram depositadas no primeiro e a família já não se surpreende tanto pelas experiências vivenciadas. É como se não fosse tão significativo”, explica. No entanto, pode acontecer, por exemplo, de o segundo filho ter mais afinidade com um dos pais e, assim, mais expectativas serem projetadas sobre ele. Não dá para generalizar. A pesquisa mostrou também que pais e mães tendem a achar que as meninas se saem melhor que os meninos na escola – o que se mostrou verdadeiro, mesmo quando as meninas são mais novas.
EXPECTATIVA X NOTAS: COMO LIDAR?
Não há dúvida de que a expectativa dos pais tem grande influência na formação e no incentivo que as crianças recebem. No entanto, fica difícil separar o que vem primeiro: crianças se saem melhor na escola porque há expectativas mais altas sobre elas ou carregam expectativas mais altas porque naturalmente se saem melhor nos estudos?
Como não dá para separar uma coisa da outra, o melhor a fazer é pensar que a nota é só uma representação de um todo que a criança vive na escola. É apenas uma construção, que não deve ser superestimada. “Valorizamos muito o lado acadêmico e nos esquecemos de valorizar a criança como pessoa, como cidadã”, ressalta Elizabete. Isso implica em dois pontos: o primeiro é que a missão da escola não é simplesmente transmitir o conteúdo, mas ajudar a criança a desenvolver noções de convívio social e valores. O segundo é que, mesmo que seu filho não tenha um desempenho brilhante nas notas, isso não quer dizer que ele não tenha um grande potencial em outras áreas, que talvez não sejam contempladas pelo modelo de ensino. Aliás, o que é mesmo um desempenho brilhante?
Uma criança que tem facilidade e tira 8 sem estudar, poderia tirar uma nota mais alta se fosse mais dedicada. Ela tirou uma nota boa, mas poderia ter ido além. “Exigir a nota pela nota não faz sentido. A questão é como se trabalha isso. A nota deve ser tratada como um referencial de potencialidade. O problema não é tirar 8, 9 ou 10. É sempre dar o seu melhor”, explica Quezia.
Cuidado para não desencorajar seu filho
Todos os pais têm expectativas em relação aos filhos. O problema é que, dependendo da maneira como eles se expressam e do nível da cobrança (para mais ou para menos), a criança pode ser prejudicada. “Se a exigência é alta demais , a criança sofre, mas se falta exigência, ela não avança. É difícil encontrar um equilíbrio”, ressalta Elizabete. Tome, então, o caminho do meio, sempre respeitando o ritmo do seu filho, prestando atenção nele e mantendo um diálogo. Lembre-se de que o desempenho acadêmico reflete todo o entorno: a experiência dele na escola, com os amigos e a maneira como ele confia em si mesmo. Por um lado, seu filho deve saber que a escola precisa ser levada a sério e que é preciso se dedicar. Por outro, não é necessário que ele se sinta esmagado pelo peso de ter de atingir certos padrões, que, às vezes, estão fora de seu alcance.
Veja algumas frases que devem ser evitadas:
– “Ah, de novo uma nota baixa? Eu desisto”
Se a criança escuta a mãe ou o pai dizer algo desse tipo vai se achar incapaz e acreditar que nem as pessoas que mais a amam nesse mundo confiam em seu potencial.
– “Seu irmão/irmã nunca me deu trabalho na escola”
Evite comparações. Cada criança é única e merece ter sua individualidade respeitada. Contemple seus pontos fortes e aqueles em que ela ainda precisa melhorar.
– “Você conseguiu porque é inteligente”
Em vez disso, prefira “você conseguiu porque se dedicou”. A criança tem mais vontade de se superar quando sabe que isso depende do seu esforço, não apenas de sua capacidade.
– “É, você fechou acima da média, mas vamos ver o que acontece no próximo semestre…”
Nem quando seu filho acerta ele arranca um elogio? Não dá para conseguir ser autoconfiante desse jeito.