Beleza na infância: “A vaidade é necessária a todo ser humano”, afirma psicóloga

Beleza na infância: “A vaidade é necessária a todo ser humano”, afirma psicóloga

“Quando eu crescer, eu quero ser igual à Gisele Bündchen”. A declaração da pequena Fernanda Yuri Mesquita, de sete anos, reflete o desejo de muitas meninas dessa idade, que se inspiram em mulheres famosas e desde cedo se preocupam com a própria beleza.

Fernanda costuma contornar as pálpebras com sombra clara e colorir os lábios com batom em tons de rosa. As unhas são feitas pela tia ou por ela mesma. Para ir à escola, a garota ainda passa gel com glitter no cabelo, um tanto de maquiagem e uma dose de perfume.

Flávia Yuri, mãe de Fernanda, conta que ela sempre teve opinião desde os primeiros anos de vida: a menininha já ia às lojas de roupas sabendo quais eram as peças preferidas e chegava a se recusar a usar certas roupas que ganhava sem ter escolhido: “Algumas eram bregas e outras não combinavam comigo”, conta a garota sobre os itens rejeitados. Flávia revela que já recebeu dois bilhetes da professora de Fernanda advertindo que o perfume da filha estava muito forte. Foi aí que a mãe descobriu que a garota havia usado seu perfume importado sem pedir. Perdoada, a menina passou a usar apenas fragrâncias infantis.

Para a psicóloga Dnyelle Souza Silva, do Hospital das Clínicas de São Paulo, gostar de se vestir bem, de escolher roupas e cuidar da beleza faz bem e é natural para toda mulher em formação. A partir dos três anos de idade, a criança já passa a se espelhar na mãe e nos moldes sociais da cultura em que vive para ir construindo sua noção de vaidade. “A vaidade é necessária a todos os seres humanos, entretanto na infância deve ser observada quando supera as necessidades infantis do brincar”, explica.

A vaidade não pode transformar a criança em um “miniadulto”, por isso, os pais precisam ficar atentos a alguns comportamentos que ultrapassam os limites da criança, como preocupação excessiva com dieta e perda de peso, sem que haja indicação médica, e gastos elevados com roupas, acessórios e cosméticos para manter algum padrão de beleza. No entanto, o principal fator que evidencia um comportamento não saudável é quando a aparência passa a ser motivo de valorização social. Crianças que julgam que devem ser mais bonitas do que outras para serem superiores estão seguindo o lado doentio da vaidade. Dnyelle aconselha: “Os pais têm a função de orientar e estabelecer esses limites; caso percebam que não obtiveram sucesso na orientação, devem procurar um profissional de psicologia para auxiliar no processo de aceitação das barreiras”.

Sem salto alto para pular as fases

A vaidade é saudável quando a criança não deixa de lado os sonhos e as brincadeiras da infância. A pequena Fernanda afirma com força que será modelo de passarela (ou Presidente da República, como segunda opção) e diverte-se experimentando roupas e sapatos da mãe e desfilando pelos corredores de casa, mas reconhece seu próprio valor. “Eu gosto da Beyoncé, da Shakira e da Katy Perry, mas não quero ser igual a elas, quero ser eu mesma. A Gisele Bündchen é a mais linda, mas eu ainda sou menina”, diz a garota de sete anos. A coroa de plástico em sua cabeça não nega.

Já Ysabela Bussi Perrone, de dez anos, não sonha em ser modelo, mas gosta de se cuidar. “Eu estou bem assim, gosto de comprar roupas, de passar maquiagem às vezes, acho que sou bonita, mas não quero ser modelo, tenho vergonha e medo de cair na passarela”, conta ela. Ysabela exercita a vaidade em suas bonecas, criando figurinos para a Barbie.

Atenta às formas do traje de uma revista de noivas da mãe, Ysabela reproduz o vestido da modelo para o espaço de sua criatividade. Por enquanto, o desenho é somente um novo esboço de modelito para a Barbie que ela própria costuma confeccionar. “Eu mesma pego o pedaço de pano e tento fazer igual ao que vejo para a minha boneca”. Tamanha delicadeza não é para pouco. Yabela já pensa em levar isso para o futuro: “O que eu quero mesmo é ser estilista. De vestidos”, afirma sem tirar os olhos do movimento da caneta.

Segundo a psicóloga Dnyelle Souza Silva, mais importante do que a preocupação com a vaidade, são os valores transmitidos às crianças. “Para as meninas, vestir-se e maquiar-se como a mãe não é o problema em si, considerando que, até certo ponto, isso é normal, mas a valorização excessiva da beleza estética, bem como a crescente preocupação infantil com esse aspecto, tornam-se prejudiciais”, completa.

A atitude dos pais em relação ao comportamento da criança é decisiva para assegurar a vaidade saudável na infância. “Eles têm grande responsabilidade em relação à estimulação e à preservação da beleza infantil”, diz a psicóloga. É importante que os pais não depositem nos filhos a expectativa de atender às suas próprias aspirações. Dessa forma, a criança fica livre para construir sua identidade e sonhar com o próprio futuro, seja modelo, estilista ou Presidente da República!

FONTE: Uol Estilo

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