“Amamentar é PURO instinto.” Você vai ouvir essa frase muitas vezes quando estiver grávida, e mais ainda quando seu bebê nascer. É quase tão absurdo quanto dizer que toda mulher nasceu para ser mãe. Vamos combinar, não é bem assim. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) do ano passado mostram que, no Brasil, apenas 41% das crianças recebem aleitamento materno nos primeiros seis meses, números que acompanham uma tendência mundial. Amamentar está longe de ser algo simples. E a própria OMS reconhece: é preciso aprender. “As mulheres que recebem algum tipo de orientação durante o pré-natal amamentam duas vezes mais que as que não recebem”, afirma Fernanda Cristina Mikami, médica-assistente de obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Quanto mais você estiver informada, se preparar (os cuidados começam na gestação) e souber lidar com os desafios que podem acontecer nas primeiras semanas, mais segurança vai sentir e melhor será sua adaptação também – ainda que alguns problemas possam surgir, como aconteceu com a atriz Luana Piovani, mãe de primeira viagem de Dom. Ela foi sincera e postou no Twitter em março, poucos dias após dar à luz: “Amamentar dói muuuuito! Só registrando…”. Mas a importância do seu leite é indiscutível: pesquisas mostram cada vez mais benefícios, como proteção contra câncer de mama na mãe e aumento de QI no bebê. Por isso, preparamos um guia com tudo o que você precisa saber – e mostramos também o que fazer se a situação se complicar.
É bem provável que esse papo aconteça no começo do segundo trimestre. Pergunte tudo, mesmo aquilo que você acha que pode ser bobagem, como “meu seio vai cair?”. Vale lembrar que, se a sua mãe, ou irmã, teve dificuldade para amamentar, mas nenhum problema fisiológico foi diagnosticado, como no bico do seio, você não corre nenhum risco a mais de passar pela mesma situação.
Oi? Você não entendeu errado, não. Entre as muitas coisas que você vai descobrir durante a gestação, o tipo de bico do seio é uma dessas – e isso pode interferir na amamentação. Basicamente, há quatro tipos. O tradicional, considerado ideal para o bebê abocanhar e sugar o leite. Está para fora e enrijece durante a amamentação. Há também o curto, que lembra o tradicional, mas é menor. E, por fim, o plano e o invertido. O primeiro, como o nome diz, não sobressai e dificulta a pega da criança na hora de mamar. O segundo lembra um umbigo voltado para dentro e pode aparecer em três níveis de intensidade. Os de graus um e dois se projetam para fora com a manipulação. Já o de grau três pode ser corrigido com os chamados exercícios de Hoffman (movimentos nas mamas feitos com as pontas dos dedos em direção ao bico na gestação). A quantidade de vezes por dia e o período devem ser orientados pelo médico, pois a estimulação do seio libera ocitocina, e isso, no final da gravidez, pode levar a contrações e adiantar o parto. Existem ainda outras duas opções. A concha preparatória, usada entre o sutiã e o seio, que faz uma leve pressão para o bico sair. Use-a pelo menos duas horas por dia desde a gravidez. Já o corretor de mamilo funciona como uma bomba que “suga” o bico, mas o manuseio é simples e indolor. Use-o por duas horas não consecutivas todos os dias. Se quando o bebê nascer o problema persistir, utilize-o antes das mamadas.
Esqueça aquela história de usar bucha vegetal para engrossar a pele do mamilo: pode causar ferimentos na região e até prejudicar a amamentação no futuro. O único método que funciona é tomar sol na região, todos os dias, antes das dez da manhã e depois das quatro da tarde, por volta de 20 minutos (não passe protetor solar nos mamilos). Os raios solares aumentam a produção de melanina, uma proteína responsável pela cor da pele e que também tem a função de protegê-la. Se não for possível, faça um sol artificial em casa com uma lâmpada fluorescente. Aproxime-a dos seios, a uma distância de dez centímetros, pelo mesmo tempo.
A higiene com água e sabonete neutro é suficiente. Use o produto na região uma vez por dia para não ressecar e evitar rachaduras – se tomar mais de um banho por dia, deixe apenas a água escorrer. Se sentir que os seios estão com um resquício de leite, passe um algodão embebido em água morna. Cremes hidratantes e óleos corporais podem ser usados na pele do seio, mas jamais no mamilo.
Mais uma palavra que vai entrar para o seu vocabulário. Quer dizer a maneira como seu filho deve abocanhar o seio. A boca do bebê deve pegar toda a aréola, até os mamilos, que devem se posicionar no céu da boca. Você pode ajudar a sustentar a mama segurando-a com a mão em forma de concha (fazendo um C, com o polegar acima da aréola e indicador abaixo dela). Os lábios da criança devem ficar virados para fora. Observe também a sucção. Se houver barulhinho durante a mamada é porque está entrando ar, e a pressão da boca no seio não será suficiente para extrair o leite. Esse processo estimula a produção do hormônio ocitocina, que ajuda na “descida” e na produção do leite. A mesma substância causa, ainda, contrações uterinas, o que faz com que o útero volte ao tamanho normal. Se o peito estiver muito cheio, talvez o bebê não consiga abocanhá-lo. Nesse caso, basta retirar um pouco de leite antes de amamentar. E não esqueça: antes dele fazer a pega, limpe os seios com algodão e água. Se não estiver em casa, passe um pouco do leite no bico.
Vai ser mais uma oportunidade para falar sobre amamentação, cuidados com os seios etc., e uma chance para você esclarecer as dúvidas que ainda ficaram e compartilhar seus anseios com outras grávidas. Veja no destaque abaixo o curso de gestante online – e grátis! – que preparamos para você.
Não deixe de fora da sua mala da maternidade. Devem ter abertura frontal, alças largas e ser confortáveis (já existem modelos mais divertidos que fogem do branco e do bege!). Compre ao menos um número maior. Afinal, seus seios vão aumentar quando começar a amamentar. Se for usar absorvente ou concha, opte pelos modelos sem bojo ou casca (os mais maleáveis ajudam a disfarçar esses apetrechos). O ideal é que você tenha pelo menos três.
A OMS recomenda que a amamentação aconteça na primeira hora de vida do bebê. Mas isso nem sempre é possível, principalmente se o parto for uma cesárea eletiva (ou seja, quando a gestante não entra em trabalho de parto). Na cesárea, a ação dos hormônios é menos intensa do que no parto normal, o que pode prejudicar a “descida” do leite. Em alguns casos mais raros, o obstetra vai indicar a administração de ocitocina sintética. O importante é insistir: algumas horas ou dias de “atraso” não vão prejudicar o sucesso do aleitamento do seu filho.
São três posições. A “barriga com barriga” que, como o nome diz, é aquela em que todo o corpo da criança fica voltado para a mãe, e o rosto, de frente para o seio. O “cavalinho”, recomendado para prematuros ou recém-nascidos com refluxo, é quando o bebê fica encaixado, como se estivesse sentado, na perna da mãe – não funciona para quem tem mamas volumosas. A última, a invertida, é usada geralmente por mães de gêmeos. Nela, a criança fica debaixo do braço e tem um travesseiro de apoio para o corpo. “Mães que fizeram cesariana podem usar esta posição caso sintam dores na região abdominal nos primeiros dias”, diz Ana Cristina Abrão, diretora do Grupo de Incentivo ao Aleitamento Materno da Unifesp.
Segure o bebê assim, coma isso para fortalecer o leite, faça aquilo e não terá rachaduras nos seios. Se você for seguir cada uma das dicas que ouvir, vai enlouquecer. E o estresse interfere na produção de leite. Na dúvida, fale com o obstetra ou com o pediatra. Mas uma dica vale considerar: descanse sempre que puder.
FONTE: Revista Crescer